Sexta-feira, final de tarde, voltando para casa de ônibus. Cenário que sempre dá boas histórias. Veja bem: eu disse boas histórias e não histórias boas.
Você já deve ter percebido que a simples inversão de palavras pode mudar o sentido de uma frase. Se naquela operação de matemática a ordem dos fatores não altera o resultado, ao lidamos com a língua a história é bem diferente. Como exemplo, observemos o sentido das próximas frases: “Um homem grande” e “Um grande homem”. Você concorda que o sentido das duas frase não é o mesmo. Aí está a beleza e o perigo das palavras.

Mas voltemos ao ônibus. Os personagens dessa história são: um homem, na faixa dos 30 anos, bermuda, camiseta regata; uma mulher, acima do 60 anos, maquiagem, calça social, blazer, salto quadrado.

O homem fala alto, gesticula, grita com o vendedor de água.
– Hei! Está dormindo. Quero uma água. Você não pode ficar aí sentado, não vai vender nada assim. Tem que se movimentar. Oferecer o produto.
O homem compra a água. O ônibus, que estava parado no semáforo, segue viagem. O personagem, não satisfeito, repete tudo, novamente, o que havia falado para o vendedor, em alto e bom som. 
– O cara estava dormindo. Quer vender, mas fica sentado. Não vai vender nada. Tem que se movimentar. Oferecer o produto.
O homem estava acompanhado pelo um colega. No entanto, não falava para o amigo e, sim para os outros passageiros. Ou melhor, seu intuito era faz com que todos o ouvissem.
preconceito

Pouco tempo depois, o ônibus tenta fazer uma manobra, mas havia um carro que o impediu. Quando o personagem masculino, dessa história, percebeu o que estava ocorrendo e quem guiava o carro, grita:

– Só podia ser mulher! Duas mulheres no carro.
Ele continuou descarregando seu discurso preconceito e misógino por mais algum tempo. Bom, você pode imaginar o ambiente. Alguns passageiros se entreolhavam. Outros fingiam não ouvir. Outros, talvez, até estivessem concordando.
Aqui entra a personagem mulher, que diz:
– Não consigo mais ouvir isso. Esse rapaz é um idiota.
Alguém disse:
– Não vale a pena, Senhora. Deixa para lá.
A mulher, personagem, que estava sentada mais à frente, em relação ao homem, olha para trás e diz:
_ É um rapaz até bem apessoado, achei que era um favelado. Como pode ser tão preconceituoso!?
preconceito_magro_gordo
Você já percebeu que, na maioria das vezes, as pessoas usam discurso preconceituoso e violento, para tentar combater o preconceito do outro. Ah, a beleza e o perigo das palavras.

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