4 livros para pensar os papéis sociais da mulher. Olá, leitores! Amanhã comemoramos o Dia Internacional da Mulher, dia de festejar direitos conquistados, mas é também dia de luta, por isso eu trouxe a indicação de quatro livros que me proporcionaram muitas reflexões e que me possibilitaram pensar em nós, mulheres, em como somos tratadas e em como estamos reagindo a tudo isso.
Não vou indicar as leituras pela ordem que li e, sim, pela última leitura, que foi como um balde de água fria que acordou a feminista que vivia dentro de mim!
Sejamos todos feministas de Chimamanda Ngozi Adichie mostra um discurso curto e impactante sobre fatos diários em que percebemos o machismo e os estigmas depositados sobre a mulher como: não pagar a conta sozinha, fazer as tarefas domésticas, cuidar dos filhos, ser um exemplo de doçura e delicadeza, encontrar um marido perfeito e por aí vai.
Chimamanda também levanta uma importante questão, que diz respeito a como as feministas são vistas socialmente: mulheres que tem verdadeira repugnância ao sexo masculino e que abdicam de toda a vaidade existente nelas, quando na verdade o relato da autora traduz perfeitamente que ser feminista é ser uma mulher como qualquer outra e ao mesmo tempo ser ela mesma.
“Sou feminina. Sou feliz por ser feminina. Gosto de salto alto e de variar os batons. É bom receber elogios, seja de homens, seja de mulheres (cá entre nós, prefiro ser elogiada por mulheres elegantes)”.
O discurso de Chimamanda é um chamamento para a consciência do que é ser mulher neste mundo em que os homens sempre ganharam fama. Não se trata de dizer quem é melhor, nem de igualar ambos os sexos, mas de RESPEITO mútuo entre ambos.
E depois dessa discussão inicial, escolhi três obras literárias que merecem destaque nessa data tão marcante: A beata Maria do Egito de Raquel de Queiroz foi uma leitura rápida que fiz já neste ano para um seminário da faculdade, mas que me deixou muito impactada. Não é novidade para quem já leu as obras da autora que seus livros sempre dão um destaque para a mulher e que tais personagens são cheias de autenticidade e garra.
Neste livro, a personagem é uma jovem de 27 anos e é muito religiosa. Toda a narrativa se passa em uma delegacia, onde a beata está detida por ter comandado uma brigada de fiéis que se juntarão ao Padre Cícero, numa briga contra o Estado.
A grande questão da narrativa eram as questões religiosas, mas algumas frases do Tenente da delegacia, onde a beata Maria estava me deixaram inquietas. O Tenente disparou frases machistas do tipo: “Não sei por que você se veste com essas roupas de Freira, se é tão jovem e bonita, e poderia estar casada ao invés de estar atrás desse Padre”.Tais frases me fizeram pensar: E será que nós mulheres sempre precisamos ser bonitas para alguém? Por que não podemos ser bonitas para nós mesmas? Precisamos mesmo casar e ter filhos, e ter um marido para nos proteger?
Bem, nesse contexto de liberdade de escolha para ser quem quisermos, destaco Adama de papel de Catharina Muniz que nos apresenta Molly, uma jovem prostituta que encanta homens de todas as idades com sua beleza exuberante.
Molly me permitiu perceber que, indigna sempre é a mulher que decide abrir mão de tudo para ser ela mesma. O homem sempre tem necessidade. Se deixa a esposa e os filhos em casa para ir a um prostíbulo não tem nada de errado, mas a prostituta que o acolhe é a culpada, destruidora de lares, sem vergonha e assim por diante.
Por fim, trago as personagens Maria Clara e Mariana do livro Restos de Nós da Bia Onofre. As personagens são separadas por mais de um século, mas suas condições sociais, enquanto mulheres são bem semelhantes… Ambas não encontram sentido em suas vidas abafadas e reprimidas.
Maria Clara vive no século XIX e foi obrigada pelo pai a se casar para manter os negócios de família. Mariana é uma personagem moderna do século XXI que casou, mas não encontrou a felicidade que todos dizem achar. Ela se sente culpada por não ter tido filhos, mesmo não tendo tido vontade de tê-los. A pressão social, das amigas e de todos a sua volta a faz questionar seu corpo, seus pensamentos e até mesmo seus desejos.
Os Nós que Bia destacou neste livro tem duplo sentido, o primeiro, a meu ver, no sentido literal de amarra, pelo que ainda nos prende aos papéis que foram destinados às mulheres desde sempre e o segundo, como 1ª pessoa do plural no sentido do
que ainda restou e do que podemos fazer com isso.
Encerro minha resenha destacando uma frase de Chimamanda, e parabenizando as mulheres pelo seu dia e por todos os outros, em que enfrentamos de cabeça erguida e batom vermelho todas as pedras que aparecem em nosso caminho. Feliz 8 de março, feliz todo dia!
“Seríamos bem mais felizes, mais livres para sermos quem realmente somos, se não tivéssemos o peso das expectativas do gênero”.