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Resenha || Amanhã não tem ninguém | Flávio Izhaki

por Nilda de Souza

Quando li o título Amanhã Não Tem Ninguém, de Flávio Izhaki, imediatamente pensei: preciso ler esse livro. O título é belo e significativo para mim, e o conteúdo confirmou essa impressão.

Conheço bem a saudade do passado e o medo do vazio do futuro. A ausência dos pais e avós faz com que reflexões sobre o amanhã e a nostalgia do ontem se tornem frequentes nas reuniões da família. Adicione a isso um tio no quarto ao lado, com quase 90 anos, que sofreu um AVC; essas reflexões se tornam ainda mais constantes. O livro aborda temas como relações familiares, velhice e solidão.

Amanhã Não Tem Ninguém: solidão, origem e relações familiares

Em Amanhã Não Tem Ninguém, seis vozes de personagens-narradores se entrelaçam para discutir solidão, passagem do tempo, origem, religião e relações familiares. As vozes aparecem de forma fragmentada, com cada personagem compartilhando trechos de sua vida em tempos e espaços diferentes, mas todos conectados, contribuindo para a unidade da narrativa.

Uma das vozes é a de Patrick, um judeu de treze anos que não fez o bar mitzvah. Seu pai, Nícolas, desistiu da cardiologia para se tornar um oftalmologista medíocre. Sua mãe, Mônica, enfrenta hostilidade da sogra por não ter sobrenome judeu. Marquinhos, seu tio, vive em Israel e guarda segredos, enquanto seu bisavô, Natan, já está no caixão. Patrick encontrou-se com ele apenas duas ou três vezes e nem sabe como proceder em um funeral judeu.

Flávio Izhaki, com apenas 34 anos e em seu segundo romance, alcança um valor estético raro para um autor tão jovem. Não é surpresa que seu livro tenha sido finalista do Prêmio Portugal Telecom 2014. Esse valor se deve à combinação precisa entre a narrativa e a expressividade que o autor consegue através dos elementos do texto.

Um dos principais recursos que Izhaki utiliza para transmitir essa expressividade são as frases curtas. Veja estes trechos:

“E Marlene vem de Madalena, que é nome judaico. Acreditei.” [p.22]

Fui aí que descobrimos o câncer. Pulmão.” [p.23]

Ela faleceu”, disse um dos médicos. Novinho. Poderia ser Nícolas ali.” [p.25]

Ao longo da narrativa, Izhaki opta por frases curtas, que poderiam ser formuladas de maneira diferente, mas que, em sua construção atual, produzem um efeito de sentido distinto do que se fosse utilizado sentenças mais longas.

O trabalho com as palavras em Amanhã Não Tem Ninguém não apenas gera beleza e lirismo, mas também eficácia na construção do sentido do texto.

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