Resenha de Distopia, de Kate Willians, publicado pela Editora Arwen – Selo Literata, em um único dia, pois estava ansiosa para descobrir como a autora desenvolveria as questões político-ideológicas. Devo dizer que fiquei satisfeita com o resultado, considerando que a obra é destinada ao público jovem e é o livro de estreia da autora. O livro inicia uma boa discussão sobre subjugação, poder, cultura e sociedade. Além disso, é, claro, um ótimo entretenimento.
Dentre os gêneros literários, o distópico é um dos meus preferidos. Acho que já disse isso mais de uma vez aqui. Gosto, principalmente, do fato de que a narrativa distópica problematiza os danos prováveis à sociedade, caso determinada tendência político-ideológica prevaleça.
Em Distopia, uma grande guerra ocorreu no ano de 2000. O mundo que conhecemos não existe mais. Agora, a sociedade está dividida sob quatro comandos: norte, sul, leste e oeste. Distopia é uma leitura não linear, com capítulos no tempo presente e um “Interlúdio”, que traz flashbacks da infância dos protagonistas, narrados em terceira pessoa.
A história se passa sob o comando do Norte, onde a sociedade vive em um sistema ditatorial extremamente fechado. Quase tudo é proibido. As tecnologias não fazem mais parte da vida das pessoas; apenas o alto escalão tem acesso a elas. Existem os governantes e os governados, sendo que, naturalmente, os governados são os pobres, os que sofrem as piores privações. São eles que entregam suas crianças, a partir dos sete anos, independente do sexo, ao comando, para serem treinadas.
É no ambiente do quartel de treinamento que se desenrola a maior parte da trama. Kate Willians optou por colocar a parte mais sombria da narrativa nesses treinamentos, o que me agradou muito. E não é o alto escalão do comando o responsável pelos momentos mais tensos da obra. Acho que podemos dizer que o bem e o mal em Distopia não estão claramente definidos. Há muitos tons de cinza.
Resenha de Distopia: o romance não é o foco central
Outro ponto que me agradou bastante foi o fato de a autora não ter focado excessivamente no romance entre os protagonistas, Laura e Thiago, ambos adolescentes. Ela é filha do Coronel do Norte, e ele, uma das crianças treinadas. Ambos têm pensamentos revolucionários, mas não exatamente com a mesma ideologia.
Thiago sonha e luta por liberdade. Já Laura luta, mas ainda não sabe muito bem o que quer. Ela deseja ser treinada como as outras crianças para, quem sabe, um dia se tornar comandante e, então, ter a chance de mudar as coisas. No entanto, parece que ela não pensa muito na liberdade do povo.
O desenvolvimento de Laura e Thiago é gradual e crível, pois nada mais irreal do que ver adolescentes de 14 e 16 anos salvando o mundo, enquanto os adultos desempenham papéis secundários. Em Distopia, os personagens secundários são fundamentais no desenvolvimento dos protagonistas. É com a família de Laura e com os amigos de Thiago que temos as cenas mais leves. Um dos instrutores assume um papel fundamental na vida das crianças treinadas.
Acima, destaquei vários aspectos que me agradaram em Distopia. Agora, vou apontar alguns pontos que, na minha opinião, poderiam ter sido tratados de outra maneira.
Um dos aspectos que me incomodou foi a repetição de expressões. Uma em particular: “revirar os olhos” é repetida excessivamente. Há páginas em que aparece três vezes. Essa expressão já me incomoda em livros traduzidos, pois sempre penso que os tradutores não encontraram palavras na nossa língua que expressassem melhor o sentimento do personagem. Porém, como Distopia é uma obra nacional, acho que Kate poderia encontrar palavras mais diversificadas para expressar sentimentos. Como o livro está em processo de revisão, acredito que isso será corrigido.
Outro ponto é o desfecho. Achei que a revolução foi muito rápida. Planejar um levante e persuadir ou conquistar seguidores ideológicos não é algo que ocorre de uma hora para outra. Poucas páginas foram dedicadas a esse aspecto.
Por fim, acredito que Distopia apresenta um vigor criativo dentro do gênero distópico, abordando temas como amizade, ética e moral. Fiquei com vontade de ver um aprofundamento maior nos temas de feminismo e homossexualidade.
Já elogiei a capa? Sim, sim, quando anunciei a parceria aqui. Quando vi a capa, lembrei da série The Walking Dead e do filme Resident Evil 3 – A Extinção.
Autora: Kate
Willians
Editora: Selo
Literata – Arwen

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