Amaldiçoado se diferencia de Nosferatu no que diz respeito ao suspense e ao terror. Estes elementos são mais sutis aqui. No entanto, o livro traz um horror que me assombra ainda mais: o demônio que reside dentro de cada pessoa. É uma obra que explora facetas da psique humana.
Não farei um resumo da narrativa, pois a sinopse já revela muito — talvez até demais.
A trama de Amaldiçoado gira em torno de mentiras, dissimulações e assassinatos. Ignatius Perrish, o Ig, é o protagonista. Toda a narrativa orbita em torno dele e das pessoas que o cercam: Merrin, sua namorada, que foi estuprada e assassinada; Terry, seu irmão e amigo; e Lee, seu melhor amigo. Esses são os personagens mais relevantes.
O livro é narrado em terceira pessoa, alternando entre o passado e o presente dos personagens. A história começa um ano após a morte de Merrin. Ig ainda não superou a terrível perda do seu grande amor, e toda a cidade acredita que ele é o assassino — até mesmo sua própria família.
Após uma noite de bebedeira, devido ao aniversário da morte de Merrin, Ig acorda com chifres. Esses chifres exercem um tipo de poder sobre as pessoas, fazendo-as revelar seus segredos mais obscuros.
Com esse novo poder, Ig começa a descobrir pistas sobre o que realmente aconteceu na noite em que Merrin foi assassinada. O assassino pode estar mais próximo do que ele imagina.
Confesso que demorei a entender o que Joe Hill queria transmitir com essa história, que mistura elementos fantásticos e realistas. Quando terminei Amaldiçoado, minha reação inicial foi negativa: “Esse livro não é bom”. Mas depois refleti e mudei de opinião.
Percebi que Hill, em Amaldiçoado, oferece uma forma muito interessante de o leitor adentrar a mente de um psicopata. Por isso, o grande destaque da narrativa é, sem dúvida, o antagonista (não vou revelar quem é).
O assassino consegue se passar por uma boa pessoa e amigo fiel por anos. Inclusive, ele era visto como exemplo para jovens em um acampamento religioso. Ele sempre soube manipular as pessoas e explorar suas fraquezas — a manipulação é sua especialidade.
Esse personagem tem um desejo doentio por Merrin, e posso afirmar que ele é um misógino. A maneira como fala sobre as mulheres, incluindo sua própria mãe, é perturbadora. Outro ponto de destaque é que Hill imprime um lado obscuro em todos os personagens. Logo no início do livro, ele enfatiza isso com a seguinte citação:
“Satã é um de nós. Muito mais do que Adão e Eva.” — Michael Chabon, On Daemos & Dust.
Quanto à personagem Merrin, acredito que ela está mais associada aos elementos fantásticos da narrativa do que aos realistas. Ela era a “luz” para seus pais, para Ig, para seu irmão e para o melhor amigo de Ig. Os elementos fantásticos, como as cobras, os chifres e a casa na árvore encantada, merecem uma análise mais aprofundada, mas deixarei isso para não prolongar demais.
“A Bíblia só fala do fruto da Árvore do Conhecimento. Nunca disse que era uma maçã. Podia ser cereja.”
Amaldiçoado é indicado para quem gosta de livros que exploram a mente doentia de um psicopata. Recomendo o livro, mas o leitor deve estar preparado para a estrutura narrativa escolhida pelo autor, que não é linear. Isso pode causar certo tédio em alguns momentos. O livro já foi adaptado para o cinema, e eu assisti à adaptação. Posso dizer que o filme enfatiza mais o lado romântico da relação entre Ig e Merrin, enquanto o livro é mais sombrio e aprofunda-se mais no antagonista. Como é uma mídia diferente, o filme não consegue capturar todos os elementos presentes no livro.
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Amaldiçoado
Joe Hill
Título Original: Horns
Gênero: Suspense
Editora: Arqueiro
Número de Páginas: 320
Ano: 2015