Os Anjos do Tempo, de Kevin J. Anderson, é uma obra do gênero steampunk, baseada nas letras de Neil Peart. Neil é compositor e baterista da banda de rock Rush, que conheci através da leitura deste livro e da qual gostei bastante. A banda lançou o álbum Clockwork Angels em 2012, que inspirou a narrativa. A partir das letras do álbum, Anderson nos transporta para um cenário fascinante, onde uma sociedade controladora faz com que as pessoas aceitem o que o destino prevê para suas vidas.
A frase “Tudo tem o seu motivo. Cada coisa tem o seu lugar. E cada lugar tem a sua coisa” encapsula a vida dos moradores de Albion, especialmente na cidade de Barrel Arbor, que vive em harmonia graças à Estabilidade que lhes foi garantida. Não seria perfeito viver em um lugar onde tudo acontece em perfeita ordem? (Tenho minhas dúvidas sobre isso).
Os Anjos do Tempo: personagens principais
Owen Hardy: Um garoto de 16 anos que trabalha na fábrica de sidra com o pai e se deixa levar para mundos distantes através dos livros. Sua vida parecia boa, até o dia em que foi convidado por um estranho a viajar para Crown City, a capital de Albion.
Anarquista: Este personagem convida Owen a explorar novos horizontes e sua passagem no livro é marcada pela rebeldia. Ele se torna uma vítima do Relojoeiro ao mostrar-se uma ameaça à ordem vigente, tudo por ser tão talentoso quanto o próprio Relojoeiro.
Relojoeiro: Um alquimista poderoso que se tornou uma espécie de governante de Albion. Ele é respeitado e absolutamente misterioso. O símbolo da Estabilidade que ele criou é uma abelha, representando a ordem que ele tanto admira.
Tudo seguia como planejado até que alguém convida Owen a deixar Barrel Arbor. Agindo por impulso, ele aceita o convite e decide conhecer o que o mundo tem a oferecer. Apesar de sentir o peso de quebrar a rotina e os planos do Relojoeiro, Owen segue em frente em busca de novas descobertas que só a ruptura da estabilidade poderia proporcionar.
A partir daí, mergulhamos em uma extensa aventura ao lado de Owen. Ele logo chega a um circo, onde é muito bem recebido e começa a construir sua carreira como malabarista; foi nesse ambiente que se apaixonou e também se decepcionou.
De malabarista a ladrão, a vida do jovem protagonista oscila entre altos e baixos, como se alguém estivesse sempre o monitorando. O Alquimista se interessa por Owen, vendo nele a possibilidade de um aliado que não aceitaria as regras impostas pelo Relojoeiro.
“Você sofreu uma lavagem cerebral imposta pela Estabilidade, garoto. Pense no que você tem agora e não tinha antes. O Relojoeiro nos dá uma rotina inabalável e nos diz que tudo tem seu motivo. Ele apresenta os lindos Anjos do Tempo, mas a beleza deles mascara a máquina fria que está por trás.”
A maneira como os eventos se desenrolam deixa a sensação de que algo está errado tanto com o Alquimista quanto com o Relojoeiro, como se ambos tentassem persuadir Owen a escolher de que lado ficar.
Os Anjos do Tempo retrata o crescimento do personagem principal. Embora inicie a história de forma ingênua, suas experiências, muitas vezes negativas, o levam a tomar decisões sobre o que é melhor para si, abandonando suas antigas crenças e formando sua personalidade.
Esse livro foi, sem dúvida, uma surpresa muito positiva para mim. Nunca imaginei que uma obra baseada em letras de músicas de uma banda de rock pudesse misturar tantos cenários, elementos mágicos e ideologias, levando-nos a refletir sobre os extremos de Ordem e Liberdade.
“A ignorância é uma verdadeira benção, mas ele não acreditava naquilo. A ignorância lhe causara muitos problemas. Se ele tivesse as informações corretas, jamais teria cometido tantos erros. Para começo de conversa, ele não teria empreendido aquela árdua jornada. Por outro lado, ele nunca teria se tornado quem era. Tudo tem seu motivo.”
Conclusão
Os Anjos do Tempo foi uma das leituras mais marcantes que já fiz! Além de alquimistas, autômatos e Anjos do Tempo que transmitem palavras que acalentam, o livro é semelhante a Cândido, de Voltaire, o que o torna ainda mais interessante.
A edição é maravilhosa, com desenhos na abertura de cada capítulo e ilustrações em papel couchê no centro do livro. A leitura flui bem e é altamente recomendada para quem gosta de ficção repleta de aventura, filosofia e música. Boa leitura!
Ouça o álbum Clockwork Angels: Spotify | Youtube
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