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[Cinema] Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

por Joanice Oliveira

“Porque é que eu me apaixono por qualquer mulher que vejo e que dá um pouco de atenção? ”

 Esse é um filme que conquista pela simplicidade do roteiro e a escolha harmoniosa do elenco para dar vida à uma história de drama, escolhas impulsivas e dilemas internos pessoais.

Joel conhece Clementine num trem e sente aquela estranha sensação de familiaridade entre eles. Parece que o coração deles está avisando que suas vidas já se cruzaram alguma vez antes desse encontro.

Clementine que é uma jovem impulsiva, tagarela, volúvel, inconstante emocional e dona de uma mania de colorir seus cabelos de acordo com seu humor fica encantada por Joel que é um homem fechado e esconde-se atrás de suas frustrações e sua vida dita como comum e sem brilho. Eles logo se entregam ao amor no primeiro dia que se conhecem, mas isso seria normal? Ou ambos estão agindo impulsivamente?

“ – Desculpa, é que a minha vida não é tão interessante assim. – Joel. ”

 Com a evolução da história descobrimos que o casal já se conhecia há 2 anos e alguns meses e tinham tido um relacionamento anterior que foi perturbado por brigas constantes, devido a forma de cada um de encarar a vida. Clementine num dos seus surtos de identidade e sua ira causada por uma discussão séria com Joel decide dar fim a esse relacionamento venenoso e prejudicial na qual tinha se envolvido. Opta pelo tratamento de esquecimento de memórias selecionadas na Clínica New York City Lacuna.

O tratamento apaga completamente as lembranças que o paciente escolhe previamente com a ajuda do doutro responsável pelo tratamento “revolucionário”. Evidente que Clementine quer esquecer Joel e consegue. Após isso Joel tenta se aproximar dela, todavia é tratado como completo estranho e não entende o porquê. Nisso ele descobre depois de uma investigação aprofundada o que sua ex namorada tinha feito e com raiva escolhe fazer o mesmo.

“ A pessoa tem que compartilhar coisas. É isso que intimidade significa.”

 O problema com Joel é que ele ama demais Clementine e apenas quer fazer o tratamento para revidar a “afronta” dela e durante sua sessão é tomado pelo bom senso e tenta loucamente impedir a finalização do trabalho, porém nem tudo é o que esperamos e escolher uma opção tão drástica tem suas consequências.

Será que Joel conseguirá interromper o tratamento e não perder as lembranças com Clementine? Por que será que ambos escolheram a covardia ao invés de encararem suas diferenças e ficarem juntos? Por que Clementine quer tanto esquecer Joel? Será que eles são tão diferentes?

Confesso que todo o drama do filme é cativante e viciante. Quando comecei a assisti Jim Carrey e Kate Winslet se envolvendo – seus personagens – já sabia que teria um enredo profundo e bem trabalhado. A história se respaldada na nossa concepção de que o sofrimento é um mal insuportável e deve ser aliviado a qualquer custo e por isso escolhemos naturalmente a saída mais “fácil”, como Joel e Clementine optaram. Decidiram impulsivamente “apagar” o que causava dor para eles, porém esquecerem que são as feridas, frustrações e decepções que moldam nossa maturidade e bom senso. No sofrimento aprendemos a saber nossos limites emocionais e principalmente a lidar com o outro.

Clementine é a personificação das Artes. Uma pessoa de libertária e que leva o conceito Liberdade ao pé da letra. Não gosta de ser controlada e é completamente instável emocionalmente e isso gera uma necessidade absurda de atenção na qual ela sempre quer carinho e ser ouvida e isso não é compreendido por Joel que é um homem frustrado em seus sonhos e carreira e não entende as necessidades de ninguém além dele e conflitos vão sendo gerados no decorrer do relacionamento deles.

A obra-prima do filme está na apresentação da inconstância humana. Normalmente as pessoas acham que existam ser humanos estáveis e outros impulsivos, mas pela psicologia moderna TODOS somos INCONSTANTES. Todos temos necessidade do NOVO e não conseguimos ficar com algo ou alguém que seja previsível demais. E por que isso? Simples, o sistema capitalista implantou o item PRAZO DE VALIDADE MENOR na vida social e isso envenena não somente os objetos, mas os relacionamentos e Joel e Clementine quando não veem problemas em seu namoro começam a sabotar isso. Iniciam brigas pela escolha da toalha da cama que dormem, o sabor do sorvete, aumentam os defeitos um do outro, dizem não suportar mais a voz um do outro e eram brigas terríveis e culminam em feridas que machucam mais que o abandono.

A fotografia, as frases de efeitos e a atuação dos atores- tanto os protagonistas quanto os secundários – fazem um conjunto harmonioso e de uma qualidade surpreendente. Jim Carrey que parece nascer para comédia, atua de forma espetacular ao lado de “estrelas” de grande gabarito como Kristen Dunst, Elijah Wood e Mark Ruffalo que são notórios durante o caminhar da história e tem seus dramas pessoais envolvidos no amor de Joel e Clementine, assim engrandecendo o enredo.

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças é uma obra cinematográfica feita com uma simplicidade surpreendente que nos apresenta a inconstância humana através da ótica da fragilidade de nossa consciência diante o sofrimento e as frustrações.

 

Título: Brilho Eterno de uma mente sem lembranças/ Eternal Sunshine of the
Spotless Mind
Produtora: Universal Pictures
Ano: 2004
Duração: 108 min
Gênero: Comédia Romântica/Drama
Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Kristen Dunst, Mark Ruffalo, Elijah Wood
Sinopse:
Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) formavam um casal que durante anos tentaram fazer com que o relacionamento desse certo. Desiludida com o fracasso, Clementine decide esquecer Joel para sempre e, para tanto, aceita se submeter a um tratamento experimental, que retira de sua memória os momentos vividos com ele. Após saber de sua atitude Joel entra em depressão, frustrado por ainda estar apaixonado por alguém que quer esquecê-lo. Decidido a superar a questão, Joel também se submete ao tratamento experimental. Porém ele acaba desistindo de tentar esquecê-la e começa a encaixar Clementine em momentos de sua memória os quais ela não participa.

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