“Porque é que eu me apaixono por qualquer mulher que vejo e que dá um pouco de atenção? ”
Esse é um filme que conquista pela simplicidade do roteiro e a escolha harmoniosa do elenco para dar vida à uma história de drama, escolhas impulsivas e dilemas internos pessoais.
Joel conhece Clementine num trem e sente aquela estranha sensação de familiaridade entre eles. Parece que o coração deles está avisando que suas vidas já se cruzaram alguma vez antes desse encontro.
Clementine que é uma jovem impulsiva, tagarela, volúvel, inconstante emocional e dona de uma mania de colorir seus cabelos de acordo com seu humor fica encantada por Joel que é um homem fechado e esconde-se atrás de suas frustrações e sua vida dita como comum e sem brilho. Eles logo se entregam ao amor no primeiro dia que se conhecem, mas isso seria normal? Ou ambos estão agindo impulsivamente?
“ – Desculpa, é que a minha vida não é tão interessante assim. – Joel. ”
Com a evolução da história descobrimos que o casal já se conhecia há 2 anos e alguns meses e tinham tido um relacionamento anterior que foi perturbado por brigas constantes, devido a forma de cada um de encarar a vida. Clementine num dos seus surtos de identidade e sua ira causada por uma discussão séria com Joel decide dar fim a esse relacionamento venenoso e prejudicial na qual tinha se envolvido. Opta pelo tratamento de esquecimento de memórias selecionadas na Clínica New York City Lacuna.
O tratamento apaga completamente as lembranças que o paciente escolhe previamente com a ajuda do doutro responsável pelo tratamento “revolucionário”. Evidente que Clementine quer esquecer Joel e consegue. Após isso Joel tenta se aproximar dela, todavia é tratado como completo estranho e não entende o porquê. Nisso ele descobre depois de uma investigação aprofundada o que sua ex namorada tinha feito e com raiva escolhe fazer o mesmo.
“ A pessoa tem que compartilhar coisas. É isso que intimidade significa.”
O problema com Joel é que ele ama demais Clementine e apenas quer fazer o tratamento para revidar a “afronta” dela e durante sua sessão é tomado pelo bom senso e tenta loucamente impedir a finalização do trabalho, porém nem tudo é o que esperamos e escolher uma opção tão drástica tem suas consequências.
Será que Joel conseguirá interromper o tratamento e não perder as lembranças com Clementine? Por que será que ambos escolheram a covardia ao invés de encararem suas diferenças e ficarem juntos? Por que Clementine quer tanto esquecer Joel? Será que eles são tão diferentes?
Confesso que todo o drama do filme é cativante e viciante. Quando comecei a assisti Jim Carrey e Kate Winslet se envolvendo – seus personagens – já sabia que teria um enredo profundo e bem trabalhado. A história se respaldada na nossa concepção de que o sofrimento é um mal insuportável e deve ser aliviado a qualquer custo e por isso escolhemos naturalmente a saída mais “fácil”, como Joel e Clementine optaram. Decidiram impulsivamente “apagar” o que causava dor para eles, porém esquecerem que são as feridas, frustrações e decepções que moldam nossa maturidade e bom senso. No sofrimento aprendemos a saber nossos limites emocionais e principalmente a lidar com o outro.
Clementine é a personificação das Artes. Uma pessoa de libertária e que leva o conceito Liberdade ao pé da letra. Não gosta de ser controlada e é completamente instável emocionalmente e isso gera uma necessidade absurda de atenção na qual ela sempre quer carinho e ser ouvida e isso não é compreendido por Joel que é um homem frustrado em seus sonhos e carreira e não entende as necessidades de ninguém além dele e conflitos vão sendo gerados no decorrer do relacionamento deles.
A obra-prima do filme está na apresentação da inconstância humana. Normalmente as pessoas acham que existam ser humanos estáveis e outros impulsivos, mas pela psicologia moderna TODOS somos INCONSTANTES. Todos temos necessidade do NOVO e não conseguimos ficar com algo ou alguém que seja previsível demais. E por que isso? Simples, o sistema capitalista implantou o item PRAZO DE VALIDADE MENOR na vida social e isso envenena não somente os objetos, mas os relacionamentos e Joel e Clementine quando não veem problemas em seu namoro começam a sabotar isso. Iniciam brigas pela escolha da toalha da cama que dormem, o sabor do sorvete, aumentam os defeitos um do outro, dizem não suportar mais a voz um do outro e eram brigas terríveis e culminam em feridas que machucam mais que o abandono.
A fotografia, as frases de efeitos e a atuação dos atores- tanto os protagonistas quanto os secundários – fazem um conjunto harmonioso e de uma qualidade surpreendente. Jim Carrey que parece nascer para comédia, atua de forma espetacular ao lado de “estrelas” de grande gabarito como Kristen Dunst, Elijah Wood e Mark Ruffalo que são notórios durante o caminhar da história e tem seus dramas pessoais envolvidos no amor de Joel e Clementine, assim engrandecendo o enredo.
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças é uma obra cinematográfica feita com uma simplicidade surpreendente que nos apresenta a inconstância humana através da ótica da fragilidade de nossa consciência diante o sofrimento e as frustrações.
Spotless Mind