Ainda não havia lido Blade Runner: Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, clássico da ficção científica, que deveria ter lido há mais tempo. Minha edição é uma verdadeira beleza, com capa dura e jacket, sendo uma edição comemorativa de 50 anos da Editora Alepha.
A história se passa em um mundo pós-apocalíptico. A Terra, como a conhecemos, não existe mais. Após uma guerra nuclear, restou um cenário desértico e estéreo, coberto por poeira radioativa. Poucas pessoas ainda habitam essa Terra devastada; a maioria migrou para colônias em Marte. Aqueles que ficaram enfrentam o perigo das mutações genéticas.
A extinção de animais orgânicos é praticamente total. Os poucos que restam são criados em cativeiro e vendidos a preços exorbitantes. Ter um animal de estimação orgânico confere um certo status, enquanto quem não pode ter um acaba adquirindo uma imitação robótica quase perfeita.
Blade Runner apresenta dois arcos narrativos que se alternam ao longo da trama. O arco principal segue Rick Deckard, enquanto o outro se concentra em John Isidore. Há também personagens secundários que conectam as duas histórias.
Rick é um caçador de recompensas, trabalhando para o departamento de polícia de São Francisco, e sua missão é “aposentar” androides fugitivos de Marte. Ele é casado com Iran, uma mulher depressiva que vive conectada a um aparelho eletrônico chamado caixa de empatia. O mercerismo, uma religião que se pratica por meio da tecnologia, é uma parte da vida deles. Assim como muitos humanos que ficaram na Terra, eles têm um animal de estimação, uma ovelha elétrica. Porém, Rick sonha em possuir um animal de verdade.
“Você sabe o que as pessoas pensam a respeito de quem não cuida de um animal; acham isso imoral e antiempático.”
O desejo de Rick de comprar uma ovelha verdadeira se aproxima quando ele recebe a missão de aposentar vários androides. O problema é que os tipos Nexus-6 são extremamente inteligentes, superando a inteligência de muitos humanos.
Blade Runner: ética e moralidade
Blade Runner faz o leitor refletir sobre diversos aspectos da vida e da sociedade, desde a relação entre tecnologia e progresso até questões religiosas, existenciais e éticas.
Um dos pontos que mais me chamou atenção em Blade Runner foi a tensão entre humanos e máquinas. O que nos torna humanos? Essa é, sem dúvida, a grande pergunta da narrativa. A empatia é o sentimento que gera toda a discussão sobre a humanidade.
As questões éticas levantadas sobre o tratamento de androides e a linha entre humano e não humano desafiam nossas noções de moralidade, especialmente em um momento em que estamos cada vez mais confrontados com dilemas éticos em tecnologias emergentes.
Na primeira cena do casal, Rick e Iran, o leitor já vislumbra um ambiente futurista, mas melancólico. Apesar da mediação tecnológica, as relações humanas estão desgastadas. Rick tem uma conexão mais forte com uma androide do que com sua própria esposa. Isso levanta uma questão ética instigante: um humano pode ter relações sexuais com uma androide?
A religião, o mercerismo, é praticada por meio da tecnologia, o que é irônico. Mesmo que seja necessário eliminar os androides, o deus Wilbur Mercer é uma espécie de realidade virtual.
Por fim, o arco de John Isidore, descrito como um “cabeça de galinha”, é igualmente interessante. Isidore não pôde migrar para Marte por não passar no teste de inteligência do governo. Ele vive em uma área desabitada e trabalha em uma clínica de animais. Sua amizade com Pris Stratton, uma android rebelada que Deckard precisa “aposentar”, revela a ironia de que Isidore é o personagem mais empático da narrativa.
Blade Runner foi uma leitura gratificante. É um livro relativamente pequeno, com uma linguagem clara e acessível. Se você se interessa por críticas às possibilidades catastróficas do avanço tecnocientífico, este livro é para você.
E, não posso deixar de mencionar, que edição maravilhosa! Capa dura, jacket linda, ilustrações divinas e vários conteúdos extras. Merece um post só para comentar sobre a edição!
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