Maternidade: um romance | Sheila Heti

Maternidade: um romance foi uma leitura extremamente gratificante, por dialogar com questões que venho refletindo por anos, especialmente antes de decidir ter meus filhos. Um dos pontos mais interessantes do livro é como aborda a imposição social, especialmente em uma sociedade machista, que faz com que a maternidade pareça um dever para as mulheres.

Essa pressão se manifesta de diversas maneiras, às vezes, sutilmente, outras vezes, de maneira mais explícita. Frases como “Você não quer ter filhos?”, “Você só vai conhecer o verdadeiro amor quando tiver um filho”, e “Quando você estiver mais velha, vai se arrepender de não ter tido um filho” são comuns e começam a ser repetidas desde cedo. Para mulheres na casa dos 40 anos, essas perguntas se tornam quase diárias e são opressoras, vindas de pais, amigos e até desconhecidos.

“Quando penso em todas as pessoas que querem proibir o aborto, isso parece significar apenas uma coisa: não é que eles queiram uma nova pessoa no mundo, o que eles querem é que aquela mulher tenha o trabalho de criar um filho, mais do que querem que ela faça qualquer outra coisa. Há algo de ameaçador em uma mulher que não está ocupada com os filhos. Uma mulher assim provoca certa inquietação. O que ela vai fazer então? Que tipo de problemas ela vai arrumar?” — Sheila Heti

Maternidade: opressão 

O grande mérito de Maternidade é trazer à luz os conflitos de mulheres que não desejam ser mães. A maioria das obras sobre o tema tende a glorificar a maternidade ou a alertar para os desafios que ela pode trazer, mas poucas exploram a perspectiva de quem opta por não ter filhos.

O livro possui características autobiográficas e uma narrativa em primeira pessoa, fazendo com que o leitor sinta que está acompanhando a vida da própria autora, Sheila Heti. Podemos considerar isso como uma forma de autoficção.

A estrutura narrativa é interessante, embora, após algum tempo, possa parecer cansativa e um pouco repetitiva. Porém, isso não compromete a fluidez da leitura. O livro começa com uma nota explicativa sobre sua inspiração em uma técnica de adivinhação chinesa, o I Ching, que utiliza três moedas para formular perguntas e respostas. As primeiras perguntas revelam:

“Esse livro é uma boa ideia? Sim”

“Esse livro vai ajudar na minha alma? Sim”

“Estou conduzindo meus relacionamentos de forma errada? Não”

A partir dessas indagações, a personagem explora diversos temas, como a relação com o companheiro, suas amizades — todas mães — e as histórias de sua avó e mãe, cujas decisões influenciam fortemente suas escolhas.

Conclusão

É um livro é recomendado para quem busca entender melhor seus próprios conflitos sobre a maternidade, seja para aqueles que desejam ter filhos, para os que optam por não ter, ou para aqueles que já são pais.

(Livro cedido em parceria com a Editora Companhia das Letras)