Riacho do Jerimum | Jadna Alana

Riacho do Jerimum é uma fantasia ambientada no Nordeste, trazendo seres fantásticos, como elfos e fadas, além de personagens do folclore brasileiro, como Saci, Caipora e Piatã. Fiquei positivamente surpresa com essa leitura, tanto pela temática abordada quanto pela construção dos personagens, que são inspiradores.

O mundo criado em Riacho do Jerimum se passa no interior da Paraíba, em um vilarejo chamado Riacho do Jerimum, onde vive um rapaz chamado Caíque. Ele não se encaixa na pequena comunidade, sendo reservado e um tanto mal-humorado, sem entender o motivo pelo qual sua mãe sempre o afasta, mesmo quando ele se esforça para agradá-la. Contudo, duas pessoas especiais fazem parte de sua vida: sua irmãzinha e Seu Vicente.

Caíque adora ouvir as histórias que Seu Vicente conta. O idoso fala de lendas antigas e de guerras passadas entre as deusas da seca e da chuva, Tifana e Amanici, respectivamente.

Às margens do riacho do Jerimum habitam seres encantados, que vivem em um mundo paralelo ao nosso, desconhecido para os humanos. Esses seres, que habitam casas feitas de jerimuns, são os protetores da natureza, e o equilíbrio do mundo humano depende do equilíbrio do mundo mágico.

Uma fantasia nacional com elementos do folclore brasileiro

A líder dos seres calahyna é Aurora, uma pequena fada que pode assumir a aparência e o tamanho de um humano. No mundo mágico da floresta, uma guerra se aproxima. Tifana, a deusa da seca, está preparando seu exército do mal, desejando governar a terra eternamente. Na primeira grande guerra, Coaraci, o deus criador, precisou intervir.

Aurora precisa de toda ajuda para enfrentar Tifana. Ela conta com o apoio de Caíque e de todos os seres mágicos da floresta. Mas será que Caíque realmente ajudará Aurora?

Em Riacho do Jerimum, há uma explicação para a seca nordestina, envolvendo as duas deusas, que são inimigas. Na primeira guerra, elas chegaram a um acordo: cada uma governa por um período. Aprecio essa forma de representação das características ambientais do Nordeste, assim como a ideia de jerimuns como casas, as quais são tão representativas da região e ainda remete à abóbora dos contos de fada.

Riacho do Jerimum traz personagens inspiradores

Aurora e Diana são exemplos de mulheres independentes. Aurora é sensível e forte, desafiando o estereótipo de que a força feminina deve ser masculinizada. Diana, sua melhor amiga, é acolhedora, bem-humorada e corajosa. Eu gostaria de ter Diana como amiga.

Agora, vamos falar de Caíque Ele é um personagem em conflito, com razões para isso. Ele não conhece o pai e não tem uma boa relação com a mãe, sentindo-se deslocado e em busca de seu lugar no mundo. Seu Vicente é um personagem encantador, cujos conselhos e sabedoria fazem dele o avô que todos merecemos.

Por fim, é maravilhoso ver nosso folclore, tão rico, sendo explorado em obras de fantasia nacional, mesmo ao lado de mitos e lendas europeias. A escolha do vocabulário que faz a ponte com o Nordeste também é um ponto positivo. E devo ressaltar que é um livro único. Viva! Chega de trilogias e séries extensas quando um único livro é suficiente.