Você precisa ler Horror Noire. Assim como aconteceu comigo, acredito que esse livro vai te fazer refletir profundamente sobre questões como racismo, apagamento cultural, estereótipos e discriminação religiosa.
Publicado pela Editora Darkside, Horror Noire é resultado de anos de pesquisa da autora Robin R. Means Coleman e aborda a representação dos negros nos filmes de terror. A autora oferece uma análise acessível sobre as imagens, influências e impactos sociais desses personagens ao longo da história do cinema.
O livro começa definindo a diferença entre filmes com negros e filmes de terror negro, uma distinção essencial para compreender o tema. A autora também faz um apanhado histórico que remonta aos anos 1890. Se você é fã do gênero, certamente irá reconhecer muitos dos filmes analisados, principalmente os mais recentes e suas refilmagens.
A estrutura do livro segue uma organização cronológica, por décadas, facilitando a leitura. A análise começa com o cinema mudo, e um ponto de destaque é a problematização do blackface, em que atores brancos pintavam seus rostos para representar negros, além de homens assumindo papéis femininos. Esses curtas-metragens, muitas vezes humorísticos, refletiam a supremacia branca e as dinâmicas sociais da época.
Horror noire: sexualidade bestializada e práticas religiosas distorcidas
No segundo capítulo, a autora analisa filmes dos anos 1930, marcados pela figura do “negro predador” e pela representação deturpada de práticas religiosas africanas, como o vodu. A obsessão em retratar uma África selvagem, conquistada pelo branco, permeia essa era cinematográfica. Esse foi um dos capítulos que mais me impactou, ao revelar o quanto essas produções influenciaram visões distorcidas da cultura negra, bestializando sua sexualidade e demonizando suas religiões. Após ler, nunca mais verei *King Kong* (1932) e sua refilmagem de 2005 da mesma maneira. Quantos filmes você conhece que demonizam o vodu?
Nos anos 1940, o negro passou de vilão a alívio cômico. Já nas décadas de 1950 e 1960, a invisibilidade tomou conta, com poucos personagens negros em destaque. No entanto, 1968 trouxe *A Noite dos Mortos-Vivos*, um clássico que aborda questões sociais e raciais nos Estados Unidos, colocando o negro como protagonista.
Os anos 1970 foram particularmente marcantes para o terror negro, com a ascensão dos filmes blaxploitation, que desafiavam as convenções racistas, mas também reproduziam problemas como a misoginia e a glorificação da violência. Nos anos 1980, prevaleceu o estereótipo de que “o negro sempre morre primeiro”, além de temas como segregação racial e sacrifício voluntário, como visto em *O Iluminado*.
Os anos 80 foi marcado pelos filmes nos quais os negros sempre morriam primeiro, além de invisibilidade, segregação racial e sacrifício voluntário. Como exemplo de filme no qual o negro é peça para o sacrifício voluntário podemos citar O Iluminado. Os fãs de O Iluminado sabem o que aconteceu com o cozinheiro negro do Hotel Overlook, Dick Halloran.
Horror noire: Filme de terror de prestígio
Nos anos 1990, surgiram filmes de terror premiados, como O Silêncio dos Inocentes e Entrevista com o Vampiro, mas a participação de personagens negros ainda era restrita. No entanto, produções como Contos Macabros e Bem-Amada trouxeram importantes representações negras ao gênero. O último capítulo do livro explora a relação entre o terror negro e o hip-hop.
O terror continua sendo um estudo sobre racismo, exoticismo e neocolonialismo para as pessoas negras, que são excluídas das imagens ocidentais de iluminação e, ao mesmo tempo, subordinadas a um sistema primitivo de imagens – políticas, econômicas, culturais, religiosas e sociais.
Se gostei de Horror Noire? Estou impactada. O livro aborda uma infinidade de questões que me fizeram refletir profundamente sobre como um gênero considerado “menor”, como o terror, pode carregar tantas camadas sociais. Poderia ficar horas discutindo cada filme, seus acertos e problemas, mas o espaço é curto.
Se você gosta de filmes de terror, leia este livro. Se estuda representatividade, racismo, cultura ou religiosidade de matriz africana, também leia. Na verdade, leia se você simplesmente gosta de cinema.

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