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A hora da estrela | Clarice Lispector

por Nilda de Souza
3 comentários

A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, narra a história do autor-narrador Rodrigo S.M., que fala de si enquanto descreve as frágeis aventuras da nordestina Macabéa. Esse foi o último romance de Clarice, publicado pouco antes de sua morte, e traz uma narrativa que explora questões filosóficas e conflitos sociais, além de investigar o ato da criação literária.

Clarice desenvolve um olhar único sobre as fronteiras e o alcance do conhecimento, utilizando a palavra e a consciência para refletir sobre a existência. “Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever” (p. 11). “Pensar é um ato, sentir é um fato” (p. 11).

Dessa maneira, Clarice investiga o pensamento e eleva a reflexão ao abordar o existencial e o conhecimento. Ela procura descobrir o que é real, tentando romper com convenções. “Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira, embora inventada –, que cada um a reconheça em si mesmo, porque todos nós somos um…” (p. 12). No âmbito do questionamento social, isso se entrelaça com o próprio questionamento da linguagem, pois Clarice busca a palavra mais adequada para expressar o que deseja. “Meu material básico é a palavra” (p. 14). “Mas não vou enfeitar a palavra…” (p. 15).

A Hora da Estrela: o olhar feminino sobre o social, o existencial e o estético

Nesse romance, Clarice rompe com suas tendências habituais e renova seu estilo, que até então explorava predominantemente a existência interior. Sob essa nova perspectiva, ela propõe uma narrativa que favorece interpretações do real através das ações, pensamentos e palavras de Rodrigo S.M. e Macabéa, ao mesmo tempo em que explora a existência imaginária de um autor-narrador masculino. “Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho” (p. 11). “É. Parece que estou mudando de modo de escrever” (p. 16).

Assim, em A Hora da Estrela, Clarice experimenta uma transformação estética ao expandir seu foco além das questões existenciais. A riqueza deste romance está nessa inovação literária, especialmente pela presença de elementos sociais evidenciados em Macabéa, personagem que representa o cotidiano da maioria da população que vive “à margem” da sociedade. “Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama em um quarto, atrás de balcões, trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiriam como não existiriam. Poucas se queixam e, ao que eu saiba, nenhuma reclama por não saber a quem.”

Esses elementos sociais geram um choque: ao se deparar com Macabéa, Rodrigo S.M. se sente acusado, e sua forma de defesa é escrever sobre ela. “É preciso falar dessa nordestina, senão sufoco.” Esse contato com alguém de classe social supostamente “inferior” entra em conflito com o conforto material e pessoal de Rodrigo S.M., pertencente à classe dos artistas. “Sou um homem que tem mais dinheiro do que os que passam fome…” (p. 18). “A classe alta me tem como um monstro esquisito, a média com desconfiança de que eu possa desequilibrá-la, a classe baixa nunca vem a mim” (p. 18-19).

 

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3 comentários

Rodrigo abril 25, 2010 - 8:01 pm

Clarice é fora de comum.

Outra coisa que chama muita atenção é a busca pela essência : " estou tentando captar a quarta-dimensão do instante-já " ou algo como " o tique-taque é it ". O " ser " era o que bastava: " a palavra mais importante da língua tem apenas uma letra: é ".
E indo mais a fundo e conhecendo a biografia de Clarice, há um elo entre Macabéa e ela própria, que se sentia um peixe fora d'água assim como a sua personagem.
A hora da estrela e Agua Viva com certeza estarão para todo sempre amém em minha cabeçeira.

bjs parabens pelo texto

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Fashion Babel abril 26, 2010 - 2:54 pm

Obrigada Rodrigo!! Seu comentário me deixou muito feliz!
É verdade, em Clarice a questão filosofica é muito presente, e de uma forma excepcional, o que a faz uma escritora genial.

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Angélica :) abril 29, 2010 - 10:27 pm

Clarice Lispector é insnpiração…
Quando li esse livro, também me apaxonei por ela.. Já li vários dela e ela vai ser sempre "a minha preferida" 🙂 .
"Ela acreditava em anjos e, por acreditar, eles existiam." A hora da Estrela..
Todos deviam ler uma obra de Clarice um dia..
Ah, e obgd por seguir meu blog :). Parabéns por seus textos..

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