Resenha de O que há de estranho em mim | Gayle Forman

O que há de estranho em mim é o primeiro romance de Gayle Forman, publicado em 2007. Britt é uma adolescente complicada. Integrante de uma banda de rock, com algumas tatuagens e hábitos de ficar até tarde fora de casa, suas notas na escola estão em queda. Uma jovem difícil, mas que não é diferente de muitas da sua idade. No entanto, essa visão não é compartilhada por seu pai e sua madrasta, que a enviam para um internato chamado Red Rock — ou, na verdade, a trancafiam lá. Seu diagnóstico? TDO (Transtorno desafiador opositivo), algo que nem ela compreende completamente. Uma certeza, porém, ela tem: não será como a mãe, como seu pai parece temer.

“Eu não saí dos trilhos. Apenas escolhi trilhos diferentes. E é por isso que estou aqui.”

O local se assemelha mais a uma prisão do que a um internato. Muitas meninas estão ali, deixadas pelos pais que não conseguem lidar com suas diferenças. Elas são forçadas a delatar, ofender e agredir umas às outras para conseguir subir de nível; a empilhar pedras em um lugar chamado Pedreira; e a fazer longas caminhadas sob o calor escaldante do deserto. As que desobedecem são enviadas à solitária. Mas os pais permanecem alheios a essas realidades; os funcionários são cuidadosos em esconder a sujeira.

Dentro desse ambiente opressivo, Britt encontra outras garotas que também se rebelam contra as circunstâncias: V., que obsessivamente pensa na morte; Cassie, bissexual; Bebe, rotulada de “piranha”; e Martha, que luta contra o sobrepeso. Juntas, elas formam o Divinamente Fabuloso e Ultraexclusivo Clube das Malucas, unidas por um objetivo comum: escapar dali o mais rápido possível, antes que a loucura as consuma. Um forte laço de amizade se forma. Elas acreditam que Red Rock não poderá detê-las.

“É que a gente acha que a loucura e a sanidade ficam em lados opostos de um oceano, mas na verdade não passam de duas ilhas vizinhas.”

O que há de estranho em mim: solidariedade em um ambiente hostil

Narrado em primeira pessoa por Britt, O que há de estranho em mim, Gayle Forman, se dedicou a pesquisas e entrevistas com pessoas que passaram por experiências semelhantes às das personagens, incluindo internações em instituições como a Red Rock Academy, cenário (ficcional) da maior parte do livro.

Red Rock é o oposto do que uma instituição para jovens deveria ser. As garotas são hostilizadas por “profissionais” que se preocupam apenas com lucro, escondendo práticas que poderiam levá-los à prisão.

A saga dessas cinco garotas em busca de liberdade — física, emocional e de expressão — me prendeu do início ao fim. Apesar do tema pesado, a leitura tem um ritmo frenético, impossibilitando largar o livro antes de descobrir o destino dessas meninas, pelas quais me apego ao longo da narrativa. É importante lembrar que se trata de um Jovem Adulto, e a linguagem é adequada ao público-alvo.

As tristezas, humilhações e provações que as personagens enfrentam me tocaram profundamente, especialmente ao saber que muitas garotas ainda vivem assim, enclausuradas por pressões familiares ou sociais, precisando esconder suas verdadeiras identidades para conviver em harmonia com aqueles que deveriam amá-las incondicionalmente.

O que há de estranho em mim: superação de estigmas

Em O que há de estranho em mim, a autora aborda questões relevantes como sexualidade, relações familiares, amizade, liberdade de expressão, amor, respeito e identidade. Para quem já leu outras obras de Forman, é possível encontrar ecos de seus temas recorrentes aqui, quase como um prelúdio do que ela escreveria mais adiante. É uma experiência maravilhosa.

O final não decepciona, com todas as pontas amarradas, mas confesso que gostaria que o livro tivesse mais páginas, para não ter que me despedir tão rapidamente de Britt e suas amigas.

Notei alguns erros de revisão durante a leitura, o que me incomodou um pouco. No entanto, a diagramação é simples e confortável, e a parte gráfica é muito bonita. Essa capa é lindíssima e captura bem a essência do livro. Estou apaixonada por ela.

Mesmo que você não seja fã do gênero, recomendo dar uma chance a O que há de estranho em mim, um livro dedicado pela autora a todas as garotas incompreendidas.