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Ninfeias Negras | Michel Bussi

por Amanda Melo

Ninfeias Negras, Michel Bussi, Editora Arqueiro. Os romances policiais, normalmente, costumam deixar pistas para os leitores montarem o quebra-cabeça do mistério, levando a um final que atende às expectativas de quem aprecia esse tipo de enredo. No entanto, em Ninfeias Negras, tudo acontece de forma oposta: não conseguimos visualizar o final, mesmo com as inúmeras desconfianças que surgem durante a leitura. Michel Bussi tem uma escrita inteligente e distinta dos autores desse gênero. O leitor desatento pode se perder, incapaz de tecer a teia de pensamentos proposta pelos personagens.

A história se passa em Giverny, onde um misterioso assassinato ocorre em um belo jardim de Claude Monet. O renomado oftalmologista é encontrado morto, e algo curioso é deixado na cena do crime: um cartão com a frase “O crime de sonhar eu consinto que seja instaurado.” Essa mensagem instiga a curiosidade do investigador. Seria essa a marca deixada pelo assassino?

Entre vítimas e possíveis culpados, as investigações se desenrolam pela cidade. Três hipóteses surgem, que podem levar ao criminoso (não revelarei aqui, rsrs). É preciso agir rápido, pois outras vidas estão em risco. Em um labirinto cheio de raízes e ramificações, todo cuidado é pouco, pois a vítima pode se tornar o culpado da noite para o dia.

O enredo de Ninfeias Negras é enriquecido pela participação de três mulheres com vidas distintas, embora todas estejam ligadas pelo crime. Fanette Morelle, a terceira mulher, vive com a mãe e é talentosa na pintura, mas seu brilho é ofuscado por um bloqueio criativo. Stéphanie Dupain, a segunda mulher, é uma professora dedicada, mas infeliz no casamento, e percebe que precisa fugir de sua realidade (ela troca olhares com o detetive). A primeira mulher, que não revela seu nome, observa tudo e todos nos bastidores. A narrativa é conduzida por ela, ou seja, temos um narrador-personagem.

“A primeira tinha mais de 80 anos e era viúva. Ou quase. A segunda tinha 36 e nunca havia traído o marido. Ainda. A terceira estava prestes a completar 11 anos e todos os meninos de sua escola queriam ser seu namorado. A primeira só usava preto, a segunda se maquiava para o amante, a terceira enfeitava os cabelos para que voassem ao vento.”

“A primeira era má; a segunda, mentirosa; a terceira, egoísta.”

À medida que as investigações avançam, acompanhamos a rotina dessas mulheres. Cada uma desempenha um papel fundamental na trama. Seja por maldade, mentira ou egoísmo, o mistério é o que predomina em suas vidas. No auge da história, um delegado entra em cena para dar continuidade às investigações, e inevitavelmente o passado começa a se desvelar, trazendo à tona uma série de descobertas.

Às vezes, é difícil colocar em palavras enredos brilhantes. A escrita de Michel é tão inteligente que me torna cética diante de situações inimagináveis. É aquele livro que te imerge na narrativa, fazendo você criar diversas teorias, apenas para destruí-las no final e reconstruir a verdadeira conclusão.

“As pessoas esquecem. Sempre acabam esquecendo. Esquecem a carnificina, a barbárie, e admiram a loucura.”

Ninfeias Negras: mistério e suspense

No início, tudo parece confuso e desconectado. Mas, à medida que os personagens se revelam e as descobertas surgem, as peças se encaixam. Senti-me em um jogo de resta um, quebrando a cabeça do início ao fim para tentar colocar tudo em ordem, e não consegui! A revelação bombástica desconstruiu tudo o que eu pensava.

Todas essas mulheres têm uma ligação sólida com a trama; não há buracos para questionar suas vidas e por que estão conectadas. O único ponto que me incomodou foi o ritmo lento da leitura, devido aos detalhes minuciosos que exigem total atenção.

Tornei-me artista plástica ao decidir pintar um enredo desconhecido. Fui obrigada a rasgar minha própria obra de arte, pois ela não condizia com o final arrebatador, que escondia o indivisível, o óbvio que deixamos passar diante dos nossos olhos.

A narrativa de Ninfeias Negras é predominantemente na perspectiva da viúva, a mulher mais velha. A predominância da primeira pessoa nos torna passionais diante de tudo que acontece. É um enredo que exige reflexão e provoca divergências de opinião, causando euforia, pois dialogamos o tempo inteiro com o delegado e essas mulheres. Pintamos nosso quadro, construímos teorias e, ainda assim, não é suficiente para alcançar a profundidade da escrita de Michel Bussi.

Os capítulos curtos, com diálogos tingidos de mistério e pânico, tornaram Ninfeias Negras o melhor livro que li em 2017 até agora. Preciso conhecer mais obras do autor. Além disso, não posso deixar de mencionar a capa e a diagramação maravilhosas que a editora Arqueiro produziu. É por esses e outros motivos que a obra deve ser lida por apaixonados e admiradores do romance policial, tanto para quem deseja um primeiro contato com a escrita de Michel Bussi quanto para os fanáticos por narrativas inteligentes.

 

* Livro cedido em parceria com a editora

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