Meio sol amarelo, Chimamanda Ngozi Adichie, foi uma leitura reflexiva, intensa, angustiante. Meu coração ainda está apertado. Queria tanto proteger os personagens. Por isso esse texto não é uma resenha, é uma tentativa de colocar no papel tudo o que ainda está me consumindo.
Este é só o segundo livro que leio de Chimamanda. Eu só havia lido Sejamos todos feministas, que é maravilhoso.
Meio sol amarelo é um documento importante
Meio sol amarelo é baseado em fatos, na Guerra Civil da Nigéria, também chamada de Guerra Nigéria-Biafra, ocorrida entre 1967 e 1970.
Em resumo, a guerra foi uma tentativa de separação do Sul, de maioria étnico Ibo, do norte, maioria hauçás. Os ibos eram a elite. Tinham o petróleo. Os filhos estudavam na Europa. Eles queriam um país chamado Biafra.
Para vocês terem uma ideia do quanto essa guerra foi devastadora, morreram, aproximadamente, um milhão de pessoas, em sua maioria ibos. A fome foi devastadora. Biafra se rendeu, sendo anexada novamente ao território da Nigéria.
A narrativa é focada nos personagens Olanna e Kainene (gêmeas), Ugwu, Odenigbo e Richard.
Minha personagem favorita é Kainene. Ela é complexa e forte, não é descrita como sendo bonita. Na verdade, é repetido várias vezes o quanto ela é desprovida de beleza, diferente da irmã Olanna. Mas eu não consigo imaginá-la feia na minha cabeça.
Já Olanna é a irmã bela, sonhadora, a queridinha dos pais. É casada com Odenigbo, um intelectual que vive meio que fora da realidade. Um revolucionário, com ideais de liberdade, mas que não faz reflexões sobre as consequências da guerra. No início eu não gostava dele. Terminei odiando.
Ugwu é jovem explorado por Odenigbo e Olanna. Uma criança cuidando de uma casa. O criado que é como se fosse da família. Quantas vezes você já ouviu isso? Odeio isso.
Ugwu é um personagem que causa amor e ódio. Você sorrirá com algumas atitudes ingênuas dele, mas também vai chorar e sentir ódio.
Richard é um inglês que se apaixonou por Kainene. Um personagem interessante, na maioria das vezes eu não entendia bem. Richard desenvolve um sentimento de pertencimento muito inspirador.
Leia esse livro Meio sol amarelo. Ele traz personagens humanos, complexos, assustadoramente reais. É ambientado num contexto histórico que o mundo precisa conhecer mais. Tenho tanto ainda para falar. Queria falar da questão religiosa, das questões culturais. Queria falar do fato de que os corpos negros não têm valor algum para o resto do mundo. Nem mesmo os corpos das crianças negras.
“O Mundo Estava Calado Quando Nós Morremos”