Resenha || Bom dia Sr. Mandela | Zelda la Grange

Zelda La Grande é a autora do livro Bom dia Sr. Mandela, publicado pela Editora Novo Conceito. De maneira singela e convincente, ela nos relata sua convivência com o grande Nelson Mandela. Inicialmente, faz considerações sobre suas dificuldades, gostos e reflexões sobre a obra, incluindo seu ponto de vista. Não se trata de uma história sobre Mandela, mas sim da vida de Zelda e sua relação com ele.

“Esta não é a sua história. É a minha história, e estou feliz com ela. Mas o leitor pode ficar desapontado se espera que eu lave muita roupa suja em público. Eu não desrespeitaria a confiança que Nelson Mandela depositou em mim. Essa é a maior honraria que ele poderia ter me oferecido – confiar em mim -, e eu pretendo prezar isso pelo resto da minha vida. O que decidi contar, e o que decidi omitir, no que lhe diz respeito, é baseado nessa confiança.”

Zelda foi secretária particular do Khulu (como ela o chamava em africâner, que significa “avô”). De forma simples e marcante, ela detalha diversas situações e lições aprendidas nos quase vinte anos em que trabalhou para ele.

“… é que você tem de prestar contas a uma pessoa apenas, que é você mesmo. Você tem que ir para a cama todas as noites com seus pensamentos e sua consciência…”

É tocante quando ela narra seu primeiro encontro com ele, pois a educação que recebeu a levou a acreditar que Mandela era alguém que desejava prejudicar os brancos (uma dica é ler sobre o apartheid). Esse momento é crucial, pois ela percebe que aquele homem é muito melhor do que diziam e do que as opiniões alheias afirmavam.

Durante o tempo em que conviveram, Zeldina, como era chamada pelo Khulu, tornou-se seu braço direito. Ao longo dos capítulos, fica evidente que essa relação só se fortalece. La Grande não deixa de expressar sua preocupação em compartilhar tudo que aprendeu com Nelson e em tentar ensinar a outros também.

“Sou uma bilionária emocional, e, se mais nada extraordinário acontecer no resto de minha vida, ainda estarei contente com essas lembranças até o dia da minha morte. Tive uma vida rica. A maioria das pessoas jamais experimentará o que testemunhei, portanto minha história é de transformações, de lentas metamorfoses mentais e do sistema de crenças onde me encontro hoje.” (Chorei nesse trecho!)

Ao longo dos capítulos, captamos pontos cruciais da vida de cada um, os acertos e falhas, os preconceitos vencidos e as viagens que ambos realizaram. À medida que o tempo passava, Zelda nos confirma a dificuldade que Mandela tinha para se locomover para lugares mais remotos, mas mesmo assim ele continuava com um sorriso no rosto, sempre trabalhando por seu povo.

Zeldina se mostra comprometida e organizada em tudo que fazia. Parte do seu tempo foi sempre dedicada ao trabalho, e ela se esforçava, já que Mandela dependia do seu empenho em diversas decisões. Os maiores desafios exigem comprometimento, tempo e escolha.

Existem livros que são divinos, que nem mesmo palavras conseguem descrever a historicidade e grandeza trazidas por um simples homem africano, que foi repudiado pelo seu povo, mas que não desistiu da sua luta e se tornou seu presidente.

O enredo é convincente e inspirador, e podemos extrair lições valiosas de cada momento que Zelda conviveu com Nelson Mandela. Há muito a ser compartilhado e dito; um texto como este não seria suficiente para descrever tantos sentimentos e reflexões. Recomendo essa história ao público mais jovem, especialmente aqueles interessados na história do povo africano, não apenas para acompanhar os momentos vividos por uma simples secretária, mas também para ver como ela mudou a vida de Khulu.

“… ao decidir perdoar você não apenas libera o oprimido como libera o opressor.”