Comecei o ano com duas ótimas leituras. Primeiro foi Kindred: Laços de Sangue e depois Inferno no Artico. E que livros, minha gente! Ambos trazem protagonistas fantásticas. Precisamos ter mais personagens assim nos livros. A resenha de Kindred: Laços de Sangue vocês encontram aqui.
Inferno no Ártico, de Cláudia Lemes, é perturbador. O leitor fica tenso, sem saber o que esperar dos próximos passos do assassino e imaginando o que a polícia fará para solucionar os crimes. O estilo narrativo da Cláudia contribui para o clima tenso. Acompanhamos o presente da vida dos personagens, mas sabemos que algo aconteceu no passado, definindo o caráter e a personalidade deles. A tensão emerge das palavras. Cláudia é, com certeza, uma das maiores escritoras brasileiras do gênero thriller. Virei fã, tanto que acabei de apoiar o lançamento da duologia Eu Vejo Kate. Já tem resenha no blog.
Em Inferno no Ártico, a protagonista é Barbara Castelo, uma policial, filha de um pai americano, também policial, e de uma mãe brasileira. Ela nasceu nos Estados Unidos, mas viveu com a mãe e a avó em Santos, SP. Barbara acaba de ser transferida, por interesse próprio, para o Alasca, mais precisamente para a cidade de Barrow. A peculiaridade dessa cidade é que, além de minúscula, lá há aproximadamente 60 dias de escuridão, o que por si só já é solitário e hostil.
Em Barrow, Barbara trabalha em crimes de menor gravidade, com seu parceiro, que não é nada amável. Mas ela também não está muito preocupada em fazer amizades. Neste cenário aterrador, um assassinato brutal, com características bizarras, desafia a perspicaz detetive Castelo e seu parceiro.
Inferno no Artico: os personagens
Não sei vocês, mas quando penso em personagens serial killers, o primeiro que me vem à mente é Hannibal Lecter. É um personagem referência no gênero, sem dúvida.
Em Inferno no Ártico, Cláudia Lemes dá vida a um serial killer muito bem construído, com características únicas. Ele realmente acredita no que está fazendo. É um extremista da causa de Lúcifer. Ele não quer fama, não busca holofotes, o que o torna extremamente perigoso e difícil de lidar.
Barbara Castelo já se tornou uma das minhas personagens favoritas. A princípio, pensei que ela seria mais um clichê da policial durona, meio masculinizada, mas ao longo da narrativa essa impressão vai sendo diluída. Barbara tem a medida certa entre fragilidade e dureza. É uma mulher cheia de conflitos e dores.
Barbara é uma mulher comum, uma característica que me agradou muito. Claro, ela é inteligente, perspicaz, competente e muito comprometida com o trabalho, o que a torna excepcional. Mas uso “comum” no sentido de aparência física. Estou tão acostumada com personagens “modelos”, com corpos esculturais. Então, quando temos uma personagem com o corpo real da maioria das mulheres, precisamos ressaltar essa característica.
Outro ponto clichê, mas usado a favor da narrativa, é a dupla de policiais que não se dá bem no início. Já vi muitos desses em séries policiais e em livros.
Inferno no Ártico é classificado como thriller, mas ouso dizer, e alguns estudiosos falam sobre isso, que livros como o da Cláudia se inserem em uma categoria à parte, em que o serial killer é o elemento central. Eles têm elementos do gênero policial e das narrativas de horror, mas é um gênero novo. Há todo um estudo sobre isso que não cabe aqui. Porém, posso dizer que o fato de o leitor acompanhar o assassino altera a lógica básica da ficção policial. Acompanhar o monstro tem características das narrativas de horror. Mas essa discussão fica para outra hora.
Para finalizar essa conversa, que já está longa: quando achei que tudo tinha terminado, a autora me surpreendeu. Parece que ela é mestre em reviravoltas. Eu adorei, pois isso amplia ainda mais os temas abordados. Inferno no Ártico não é só sobre um assassino em série; há muito pano para manga e discussões atuais. Leiam, por favor!
Agora juro que vou finalizar. A autora teve todo um cuidado em estabelecer traços de verossimilhança, compostos de técnicas de investigação condizentes com o local onde a trama se desenrola. O trabalho primoroso de pesquisa sobre o culto a Lúcifer também merece muitos aplausos. Ah, e a divisão dos capítulos tem tudo a ver com a trama. O livro é independente, com um trabalho maravilhoso de edição.
11 comentários
Nossa adorei a capa desse livro e o titulo é bem impactante né?!
nossa, fiquei muito curiosa pra ler, eu gosto muito dessa tematica de serial killer e tudo o mais, e ainda mais porque a personagem é brasileira, me deixou mais encantada ainda!!!
Já coloquei na minha lista!!
Olá linda,
Fiquei extremamente interessada nessa obra, porque você deu 10 em tudo e isso mostra a qualidade do livro e confio demais no seu julgamento literário.
Suspense é meu gênero favorito – juntamente com poesia – e dando só um adentro: Horror é um subgênero do suspense e acho que dificilmente se tornará um gênero independente até porque teria que ter características próprias e as atuais pertencem ao suspense. Só pensar: existe suspense sem horror ou terror, porém o inverso é falso.
Super amei seu detalhamento e explicações na resenha.
Beijos
Sim, sim sobre suspense e terror. Essa questão da nomeação dos gêneros é muito complicado, Bakhtin tá aí pra falar sobre tudo isso. É que eu ando lendo uns caras loucos pro mestrado. Eles apontam algumas questões que eu acho super interessante.
Beijos, Jô!
Eu amo histórias com personagens fortes <3 Amo essa representatividade na literatura <3
Li Kindred tbm e foi uma das melhores leituras que eu já fiz na vida.
Este eu já não conhecia, mas sem dúvidas adicionei nos meus desejados. Deu pra sentir pela sua resenha que vale a pena
Oi Nilda, eu fiquei bem tentada a comprar esse livro na campanha de lançamento, pena que não consegui. Quero muito ler algo da autora, achei super interessante essa protagonista e essa decisão dela de ir pra uma cidade no Alasca. Gosto de histórias do gênero e amei saber um pouco sobre essa pela sua resenha.
gente, como eu nao conhecia esse livro aind?
juro que nao sabia dele, mas agora mnao vou descansar enquanto nao ler
ovrigada pela dica, eu amo livros perturbadores rsrs
Quando um livro traz personagens bem construídos, já dá uma aquecida no coração, mesmo que a trama não seja das melhores. Para mim o personagem é a parte mais importante de toda e qualquer história (sei lá, loucuras minhas de escritora) .
Fiquei interessada com a ideia da mistura de romance policial e terror – quero entender o que você quis dizer com um “novo gênero”. Como sou fã dos dois, acho que vou dar uma olhada e ai podemos conversar sobre isso heheh
Beijos,
http://www.degradeinvisivel.com.br
Eu li Eu vejo Kate e sei do talento extraordinário da autora, então certamente a possibilidade de eu amar a leitura de Inferno do ártico é bem grande, não sabia desse lançamento e certamente vou procurar.
Oi Nilda, sua linda, tudo bem?
Com certeza o fato de eles estarem em um lugar onde serão 60 dias de noite, incentiva a ocorrência de qualquer tipo de crime, imagine, deve dar até medo. Não sei como eles conseguem viver assim. E agora, como eles irão conseguir descobrir quem é? Parece que não há muitas pistas. Vou anotar a dica.
biejinhos.
cila.
Olá, tudo bem?
Eita, que premissa, heim? Me instigou muito!
Confesso que não conheço nenhuma obra da autora, mas que você me deixou curiosa. Confesso também que esse livro não faz meu estilo, no entanto, sua resenha me fez colocar ele na minja listinha de desejados!
Beijo!
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